Hemograma na Dengue

Hemograma na Dengue

A dengue é uma doença grave causada por vírus transmitido por mosquitos. Os principais transmissores são especialmente as fêmeas infectadas do Aedes aegypti. Os vírus que causam essa infecção usam o RNA para se multiplicar dentro do corpo humano. É importante destacar que existem quatro tipos diferentes de vírus da dengue (sorotipos 1, 2, 3 e 4), podendo causar tanto a dengue comum quanto a forma grave, denominada a Dengue hemorrágica.

Fisiopatologia

O vírus da dengue consegue invadir diversas células, incluindo as dos músculos, órgãos internos, pele e fígado, para se multiplicar. Após isto, entra em uma fase chamada viremia, onde circula no sangue ou dentro de células como os macrófagos e monócitos, o que estimula a resposta natural do corpo. Os anticorpos gerados devem desempenhar um papel crucial ao evitar que o vírus entre nas células.

Locais comuns para que o vírus replique

É importante notar que o sistema imunológico deve criar anticorpos, assim que haja contato com o patógeno (neste caso um dos subtipos de um vírus). Havendo um novo contato, mas com um subtipo diferente do vírus, os anticorpos produzidos no primeiro contato, não conseguem mediar resposta contra o novo patógeno. O mecanismo para a dengue hemorrágica ocorre exatamente quando ocorrem infecções com dois subtipos distintos.

Sobre a opsonização

O processo de opsonização é essencial para iniciar uma resposta imune eficaz contra o agente infeccioso. É relevante mencionar que a ação conjunta dos fagócitos, incluindo macrófagos, desempenha um papel importante na eficácia da resposta imunológica. Opsonizar nada mais é que a marcação dos patógenos pelos anticorpos, para que as células de defesa possam combatê-los.

Depois de serem capturadas pelas células protetoras, outro tipo celular, as células Natural Killer (NK) e os linfócitos citotóxicos reconhecem as células infectadas. Isso resulta na eliminação dos macrófagos, ocorre também liberação de substâncias que causam inflamação, como citocinas pró-inflamatórias e interferon gama. Esse processo leva a danos nas paredes internas dos vasos sanguíneos, desencadeando um processo de coagulação exacerbado.

Consequentemente, isso pode levar a uma diminuição no número de plaquetas no sangue, o que é chamado de trombocitopenia, e um aumento na concentração de hemácias, gerando uma hemoconcentração. Isso acontece porque parte do líquido do sangue, acaba escapando para os tecidos.

Alterações no hemograma

Eritrograma:

  • O hematócrito geralmente aumenta em 20% em relação ao valor inicial: 38% em crianças, 40% em mulheres e 45% em homens.

Leucograma: 

  • A contagem pode variar, podendo ir de uma redução de leucócitos (leucopenia) a um aumento leve (leucocitose).
  • Observa-se também um aumento de linfócitos reativos, que mostram uma coloração mais intensa no citoplasma (hiperbasofilia) e núcleos com cromatina densa.
  • Plasmócitos também podem estar presentes.
  • Os neutrófilos podem apresentar hipossegmentração.
  • Na febre hemorrágica, há um aumento de neutrófilos a partir do quinto dia de febre, juntamente com uma aparência granulada anormal (granulação tóxica).
Neutrófilo hipossegmentado

Plaquetograma: 

  • Os valores estão geralmente abaixo de 100.000 células por microlitro (mm³).

Tratamento

O diagnóstico é realizado por meio do isolamento, sorologia e pesquisa de antígeno. Exames de monitoramento e suporte, como hemograma, coagulação e análises bioquímicas, são empregados, além da avaliação dos sinais clínicos comuns. Não existe tratamento específico disponível. Medicamentos podem ser utilizados apenas para aliviar os sintomas, mas é fundamental evitar o uso de salicilatos e anti-inflamatórios não hormonais, pois seu uso pode aumentar o risco de manifestações hemorrágicas e acidose.

Referências

  1. FAILACE. R.; FERNANDES, F. Hemograma: Manual de interpretação. 6° ed. Artmed, 2015.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Dengue: aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento / Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002. 
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Dengue: deciframe-me ou devoro-te / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
  4. NAOUM, Flávio Augusto. Doenças que alteram os exames hematológicos. 2ª ed. Atheneu, 2017.
  5. Virus: An Illustrated Guide to 101 Incredible Microbes Marilyn J. Roossinck.
  6. FERREIRA, M.F. Interpretação do hemograma frente a suspeita de dengue. Disponível em: <https://oswaldocruz.br/revista_academica/content/pdf/Edicao_12_Ferreira_Milena_Fonseca.pdf
  7. Oliveira, E. C. L.,  et al. Alterações hematológicas em pacientes com dengue. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. v. 42. n. 6. p. 682-685, 2009.
  8. FARIA, R. J., BAZONI, P. S. Alterações no hemograma de pacientes com dengue no Município de São José do Calçado, ES. v. 28. n. 4. p. 241-256, 2016. Disponível em: http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=1796

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