Recém-nascidos: como funciona o hemograma?
Profissionais de saúde que buscam oferecer cuidados de qualidade na fase delicada da vida dos recém-nascidos necessitam compreender o hemograma nessa etapa. Essa análise em neonatos é moldada por peculiaridades e erros pré-analíticos.
Erros pré-analíticos e coleta de sangue
A coleta de sangue em recém-nascidos exige atenção especial devido à possibilidade de erros pré-analíticos. Mesmo com a supervisão de um coletor experiente, o estresse durante a coleta pode provocar alterações em todas as três séries do hemograma. Em algumas maternidades, a coleta por punção digital é utilizada, mas é importante ressaltar que essa abordagem pode levar à hemoconcentração artefatual, impactando a precisão da análise.
Eritrograma e as mudanças pós-natais
A transição do ambiente intrauterino para a vida extrauterina provoca mudanças significativas no eritrograma do recém-nascido. O volume sanguíneo acumulado na placenta e no cordão umbilical após o parto tem um impacto direto no hemograma, sendo o momento do clampeamento determinante para essas alterações. Portanto, a interpretação dos resultados deve receber uma atenção especial.
O eritrograma do recém-nascido
Ao observar o eritrograma, notamos, na maioria dos casos, a presença de eritrócitos maiores (macrocitose) e uma maior frequência de esquizócitos. Esses achados são considerados normais, respectivamente, devido à forma de produção dos eritrócitos e ao seu tempo de vida mais curto. No entanto, é crucial prestar maior atenção quando há correlação entre esses achados e o estado clínico de doença.
A policromatofilia no cordão umbilical destaca-se como um fenômeno comum, refletindo a liberação de hemácias jovens pela medula. A presença de eritroblastos, mesmo que esperada, também merece destaque, correlacionando-se principalmente com distúrbios hemolíticos.
Leucograma e plaquetograma
O leucograma de recém-nascidos apresenta uma notável variabilidade, com uma predominância inicial de neutrófilos que, com o tempo, dá lugar aos linfócitos. A ocorrência de uma contagem menor de neutrófilos em comparação com os linfócitos é resultado da resposta imunológica neonatal, que está constantemente reconhecendo novos antígenos.
A contagem de plaquetas, sujeita a erros devido a traumas durante o parto, requer uma análise cuidadosa. A ativação plaquetária pode resultar em macroplaquetas, complicando a contagem precisa. Isso demanda uma avaliação criteriosa, especialmente em casos de trombocitopenias sem explicação aparente.
Situações atípicas
A Anemia do Prematuro manifesta características normocíticas e hiporregenerativas. Exemplos de condições que evidenciam a diversidade patológica desta fase incluem anemias hemolíticas genéticas, anemia por incompatibilidade, hemorragias pós-natais e infecções por TORCH.
A compreensão do hemograma no recém-nascido vai além da mera análise laboratorial. Exige conhecimento das condições fisiológicas e patológicas associadas a essa fase única da vida. Profissionais de saúde, munidos desse conhecimento, estão melhor preparados para oferecer cuidados precisos e personalizados, contribuindo para o bem-estar e a saúde duradoura dos neonatos.
Referências
- Doenças que alteram os exames hematológicos, Flávio Augusto Naoum, 2ª edição, editora Atheneu, 2017
- Hemograma: manual de interpretação, Renato Failace; Flavo Fernandes, 6ª edição, 2015
- Laboratório de hematologia: teorias, técnicas e atlas, Márcio Melo et al, 2ª edição, editora rubio
- Ministério da Saúde. 2014. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os Profissionais de Saúde, V.1. Local de publicação: Ministério da Saúde. Recuperado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_v1.pdf
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