Poliglobulias: o que você precisa saber
Geralmente, define-se como aumento da massa eritroide em sua totalidade, ou seja, com elevação de hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht) e da contagem dos próprios eritrócitos, todos estes acima da referência. O aumento da produção de hemoglobina é o que leva diretamente à manifestação das poliglobulias. Portanto, se houver uma produção significativamente maior de Hb, isso também implica na presença de um maior número de eritrócitos. Como consequência, aumenta-se também os valores do Ht.
Neste contexto, surge outro termo, a “Eritrocitose”, que se refere ao aumento da contagem de eritrócitos, podendo ocorrer sem a elevação dos demais parâmetros. Também podemos fazer uso do termo específico “Eritrocitose Essencial” (ou idiopática) quando nos deparamos com uma poliglobulia de causa inexplicada. Em outras palavras, o paciente não apresenta sinais clínicos ou histórico laboratorial que possam explicar essa descoberta.
Diferenciação
Na prática clínica, a poliglobulia pode se manifestar de duas formas distintas:
- Poliglobulia Absoluta: Nesta forma, ocorre o aumento real da massa de células vermelhas com valores superiores aos considerados normais para o hematócrito (Ht), hemoglobina (Hb) e número de eritrócitos.
- Poliglobulia Relativa: Também conhecida como pseudopoliglobulia. Esta variante é o resultado da perda de volume do plasma sanguíneo, o que aumenta proporcionalmente a massa eritroide. Situações como queimaduras extensas e desidratação podem levar a esse tipo de poliglobulia.
São causas da Poliglobulia absoluta:
- Poliglobulia primária: Essa condição é caracterizada por um distúrbio na produção de células vermelhas na medula óssea, resultando em uma hiperproliferação, como é observado na Policitemia Vera.
- Poliglobulia secundária: Nesse caso, a poliglobulia está relacionada ao aumento da produção de eritropoetina como resposta à hipóxia (baixa oxigenação dos tecidos) ou devido à secreção inapropriadamente elevada de eritropoetina.
Sobre a eritropoetina
O hormônio glicoproteico de origem renal, a eritropoetina, assume um papel crucial em nosso sistema. O fígado e outros tecidos também tem a capacidade de produzir esse hormônio, embora cerca de 90% da produção ocorra nos rins.
Células intersticiais ao redor dos túbulos do córtex, e da medula exterior renal são as principais responsáveis pela secreção da eritropoetina. No entanto, antes disso se desenrolar, células específicas também nos rins já detectaram a baixa disponibilidade de oxigênio a nível corporal.
Causas da poliglobulia secundária
Diferentes situações podem contribuir para o surgimento deste tipo de poliglobulia, já que está relacionada ao aumento da secreção de eritropoetina devido à hipóxia. Exemplos incluem altitudes elevadas, onde ocorre uma adaptação fisiológica em resposta à baixa tensão de oxigênio.
No caso do tabagismo, há a formação de carboxihemoglobina prejudica o transporte de oxigênio, induzindo hipóxia e estimulando a produção excessiva de eritrócitos. Doenças como a Doença broncopulmonar obstrutiva crônica (dificuldade de circulação do oxigênio) também podem causar hipóxia, estimulando a produção de eritrócitos. Outra condição é a síndrome da apneia noturna, relacionada à má qualidade respiratória durante o sono.
Alguns tumores, como hemangiomas cerebelares, miomas uterinos e cistos renais, secretam eritropoetina, imitando a função renal e levando também à poliglobulia. Esses casos se enquadram como secreção inapropriada de eritropoetina. Além disso, medicamentos que simulam a eritropoetina, como a eritropoetina recombinante, também podem causar poliglobulia secundária.
Tratamento e acompanhamento
O tratamento das poliglobulias é personalizado de acordo com a causa subjacente e a condição médica do paciente. Isso pode incluir o uso de medicamentos, tratamento de tumores, mudanças no estilo de vida e outras abordagens. No entanto, independentemente do tratamento escolhido de poliglobulias, um acompanhamento médico regular é essencial, e em alguns casos, pode ser necessário realizar flebotomias frequentes.
Referências
- Failace, R., et al. (2015). Hemograma: manual de interpretação. 6ª edição. Editora Artmed.
- Zago, M. A., et al. (2013). Tratado de hematologia. 1ª edição. Editora Atheneu.
- Bain, B. J. (2016). Células sanguíneas – um guia prático. 5ª edição. Editora Artmed.
- Naoum, F. A. (2017). Doenças que alteram os exames hematológicos. 2ª edição. Editora Atheneu.
- Júnior, J. A. S., Ferreira, M. I. de A., & Mendes, V. L. B. (2021). Abordagem das poliglobulias: com referência à um caso clínico / Polyglobulia approach: with reference to a clinical case. Brazilian Journal of Development, 7(10), 97644–97653. https://doi.org/10.34117/bjdv7n10-198. Disponível em: Abordagem das poliglobulias:
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