Anemia Ferropriva: importância clínica

Anemia Ferropriva: importância clínica

A deficiência de ferro é a causa de anemia mais comum de anemia em todo o mundo. É mais prevalente em crianças durante o desenvolvimento e em mulheres grávidas, devido ao menor consumo de ferro nessas condições, neste contexto trata-se também de uma anemia carencial.

Nas mulheres, a menstruação abundante é a principal causa dessa deficiência, enquanto nos homens e em mulheres na menopausa, doenças gastrointestinais, como úlceras e gastrites, são os principais fatores.

Além disso, defeitos de absorção causados por cirurgias gástricas e dietas deficientes em ferro também podem levar à deficiência. Muitas vezes, a anemia de causa ferropriva é presumida de forma prematura, levando a tratamentos ineficazes, podendo ocasionar graves quadros de intoxicação por ferro. É importante realizar investigações abrangentes para identificar a verdadeira causa da anemia, já que este distúrbio pode ser multifatorial. 

Sinais e sintomas

A alotriofagia, conhecida como Síndrome de Pica, é um distúrbio em que indivíduos consomem substâncias não nutritivas, como gelo, plástico e terra, distorcendo assim o paladar. Também pode estar relacionada à deficiência de ferro, sinais e sintomas como glossite (língua fissurada), coiloníquia (unhas côncavas e quebradiças) e palidez da conjuntiva (geralmente quando a hemoglobina cai abaixo de 9 g/dL).

Nas unhas pode ser percebida formação de uma concha, este achado é incerto, mas pode estar ligado às necessidades de ferro em diversas enzimas celulares. Todas as situações citadas a cima estão relacionadas com formas mais graves do processo anêmico. De forma mais comum, o cansaço, palidez na pele e conjuntiva dos olhos são achados corriqueiros.

Imagem: Portal alto aiquiri

Características

A AF ocorre devido à redução de ferro disponível para a síntese de hemoglobina nos eritroblastos (células precursoras das hemácias) e consequentemente produção dos eritrócitos. A hemoglobina é composta por duas cadeias de globina alfa e duas cadeias de globina não alfa, cada uma contendo um grupo heme com átomos de ferro.

A falta de ferro afeta a produção de hemoglobina, prejudicando a eritropoiese e resultando em eritrócitos microcíticos e hipocrômicos (hemácias menores que o normal e com menor quantidade de hemoglobina).

Estágios da deficiência do ferro

Mesmo tendo caracteristicamente a AF como anemia microcítica e hipocrômica.  Esse processo envolve uma sequência de estágios. Inicialmente a deficiência de ferro resulta na diminuição da ferritina, sendo esta a principal proteína de armazenamento de ferro nos humanos. Conforme a deficiência persiste, o organismo começa a utilizar o ferro presente nas proteínas transportadoras, chamadas transferrinas.

Ilustração de anisocitose

Isso leva à redução do ferro sérico, diminuindo o suprimento disponível para a medula óssea e outros tecidos. Como resultado, ocorre uma eritropoiese deficiente em ferro. Como tentativa de equilibrar a hemoglobina disponível, são produzidas hemácias menores, assim temos de forma marcante uma anemia microcítica e hipocrômica. Esse processo se desenrola gradualmente até alcançar o estágio final, até a grande maioria das hemácias possuírem estas características..

Hemograma

Na fase inicial, o número de eritrócitos ainda pode ser normal, embora comece a diminuir. Além disso, há uma anemia normocítica e normocrômica podendo haver uma anisocitose (aumento da variação de tamanho das hemácias) precoce. Isto ocorre pois o indivíduo que tem hemácias de volume normal, terá também as hemácias microcíticas na sequência. Neste estágio inicial, não ocorrem mudanças significativas na forma das hemácias (poiquilocitose).

Quadro clássico

Na anemia ferropriva clássica, eritrócitos assumem formas anormais, como eliptócitos e ocasionalmente hemácias em alvo. Dacriócitos e esquizócitos também podem estar presentes. A contagem total de hemácias diminui, assim como hematócrito, obviamente pela deficiência de ferro como matéria prima. A policromasia geralmente está ausente em pacientes não tratados, e os reticulócitos podem estar normais ou reduzidos devido à falta de ferro na medula óssea, que está com baixa atividade. Entretanto, durante o tratamento devem surgir hemácias policromáticas até em excesso, já que a medula está hiperestimulada.

Eliptócitos em lâmina

Tratamento

A escolha do tratamento envolve algumas variáveis que consideram a suplementação e as características do paciente. O método mais comum é a suplementação oral com ferro. Os principais agentes utilizados para suplementação incluem sais ferrosos, sais férricos, ferro aminoquelado, complexo de ferro polimaltosado (ferripolimaltose) e ferro carbonila.

Referências

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