Febre amarela e as alterações hematológicas: O que você precisa saber

A febre amarela é uma infecção viral que provoca alterações significativas no sangue, impactando diretamente os exames laboratoriais. No contexto da análise hematológica, compreender essas mudanças é extremamente importante para interpretar o desenvolvimento e gravidade da doença.
A febre amarela é uma arbovirose grave e potencialmente fatal, caracterizada por um quadro febril agudo de rápida evolução. Causada pelo vírus da febre amarela, pertence à família Flaviviridae e é transmitida por mosquitos vetores em dois diferentes ciclos epidemiológicos: Silvestre e urbano.
No ciclo silvestre, os principais transmissores são os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que infectam primatas não humanos (PNHs), considerados hospedeiros amplificadores do vírus. O ser humano, nesse contexto, torna-se um hospedeiro acidental ao adentrar áreas de mata. Já no ciclo urbano, a transmissão ocorre pelo Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue, zika e chikungunya.
Nos estágios iniciais, os sintomas podem ser inespecíficos, incluindo febre alta, calafrios, mialgia e cefaleia. Com a progressão da infecção, surgem alterações nos parâmetros hematológicos que auxiliam na suspeita diagnóstica e no monitoramento do quadro clínico.
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS NA FEBRE AMARELA:
1) Leucopenia e neutropenia:
Nos primeiros dias da infecção, o hemograma pode revelar leucopenia, com contagem de leucócitos entre 1.500 e 2.500/µL. A neutropenia também é frequente, sendo um indicativo útil para diferenciar a febre amarela de outras infecções virais ou bacterianas;
2) Trombocitopenia e risco de sangramentos:
A febre amarela pode levar a uma queda acentuada na contagem de plaquetas, aumentando o risco de hemorragias espontâneas. Entre as manifestações clínicas associadas, destacam-se petéquias, equimoses, epistaxe e hematêmese;
3) Anemia hemorrágica:
Nos casos graves, os sangramentos gastrointestinais podem resultar em anemia significativa. Laboratorialmente, observa-se redução do hematócrito e da hemoglobina, evidenciando perda sanguínea ativa e a necessidade de acompanhamento rigoroso;
4) Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD):
Nos quadros mais severos, a febre amarela pode desencadear uma ativação desregulada da cascata de coagulação, resultando em Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD). Os achados laboratoriais incluem:
- Aumento do tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA);
- Redução dos níveis de fibrinogênio;
- Elevação do D-dímero e presença de produtos de degradação da fibrina.
5) Icterícia e alterações no hemograma:
O comprometimento hepático na febre amarela resulta em icterícia e repercussões hematológicas associadas. O hemograma pode revelar:
- Anemia relacionada à hemorragia ou destruição de hemácias, acompanhando o aumento da bilirrubina indireta;
- Plaquetopenia, intensificando o risco de sangramentos, em conjunto com a redução da albumina e distúrbios da coagulação;
- Leucocitose tardia, sugerindo resposta inflamatória secundária ao comprometimento hepático severo;
- Presença de esquizócitos, indicativo de hemólise intravascular associada.

Esquizócitos observados em lâmina. Fonte: CellWiki.
Importância do hemograma na febre amarela:
A avaliação hematológica desempenha um papel fundamental no diagnóstico e acompanhamento da febre amarela. Achados como leucopenia, trombocitopenia e distúrbios da coagulação são marcadores laboratoriais importantes.
O monitoramento contínuo do hemograma e de outros exames complementares permite uma abordagem mais precisa na avaliação da gravidade da doença, contribuindo para intervenções oportunas e um melhor manejo clínico.
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Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Manejo Clínico da Febre Amarela. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020.
SILVA, Paulo Henrique da et al. Hematologia laboratorial: teoria e procedimentos. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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